domingo, 14 de outubro de 2012

Beijo Apertado


     Ela ganhou um Beijo Apertado, e o segurava nas mãos, pensando no que aquilo significava.

     Apertado devia ser adjetivo de abraço, mas a mistura muito lhe agradava. Um beijo apertado vinha coladinho num abraço de muitos abraços e poucos espaços, juntinho como devem ser os abraços e os beijos no ponto do ônibus, onde o espaço não é muito, de qualquer jeito.

     Lembrou que os abraços de ponto do ônibus estavam suspensos até segunda ordem. Ou pior... suspensos para quase sempre. Apertou o Beijo Apertado entre os dedos, inconscientemente, para que não fugisse. Ele resmungou e deu uma mordidinha. Naturalmente... afinal, de onde veio aquele beijo, resmungos e mordidas eram mais naturais que um Bom Dia entredentes.


     Lembrou que os Bom Dia entredentes também estavam suspensos... e teve vontade de resmungar também. Repetiu que odiava saudade, que amigos a gente cria pra ficar aqui do lado, e não lá longe. Cantou com Sérgio Reis e não se preocupou em ser brega: "Quem inventou a distância... não conhece a saudade..."

     Largou-se apreensiva por um momento, e escutou a chuva lá fora. Nada como o barulho de chuva para acertar desencontros. Sorriu. Ela tinha o beijo apertado nas mãos, só dela. E um monte de instantes interessantes fora da caixa e entupidos de argumentos para compartilhar. Que, de repente... poderiam valer como moeda de troca para mais alguns beijos apertados.

     Ficou feliz por se construir de razão - e tentar conter escorregões com isso. Guardou o Beijo Apertado na divisão de instantes infinitos, abraçou o gato, virou para o lado e foi dormir. Há um tempinho, o dia de amanhã estava sendo mais interessante que o de hoje. Boa rotina para se ter e manter.

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     Mulheres exatas são mesmo bugs da sociedade.