quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Do Ator e do Amor - Ou Porque eu choro quando as Luzes se acendem

Ilustração: carlasartstudio.com
Uma hora e pouco de pura falsidade para o entretenimento. Falsidade que faz rir, que faz chorar, que dá medo, dá nojo, prazer e toda variedade de sensações. Acendem-se as luzes, o ator sorri. E eu choro. Invariavelmente.

Emociona-me o triunfo final do ator. Emociona-me seu olhar brilhante diante da plateia, que ele fingiu enxergar durante todo o espetáculo. Emociona-me ter dado tudo certo, seja porque todas as falas foram decoradas, seja porque o improviso foi a alma do show.

Emociona-me a ousadia de reviver, toda sessão, as sensações dos outros, vidas imaginárias, percepções além do palco. Emociona-me que consigam, gostem, e se alimentem de tudo isso com avidez. Emociona-me já ter estado uma vez do lado de lá, e deixar lembrar, de cá, o calor que dá sair da coxia e ser quem não se era, e quem não será jamais.

O ator se mistura ao louco quando se apaixona pelo personagem. Criador e criatura emaranhados sobre o tablado, um encantado por existir, o outro por deixar de existir. Dessa união enebriante surge a profissão apaixonada do artista, cujas entranhas reclamam de fome, para que ele entenda que precisa de dinheiro, e não pode se nutrir só da própria paixão.

Nem todos os que atuam são atores; nem todos os atores estão nos palcos - ou na praça, ou num banco de jardim... Em torno de uma enorme mesa de carvalho, numa reunião séria dia desses, ouvi de alguém importante que "quem não estava indo trabalhar porque gostava, era melhor nem ir." Se o aviso foi necessário, é porque talvez estejam faltando mais artistas. Verdadeiros artistas sempre vão porque gostam, por mais estranho que seja o papel naquele momento.

Lembro-me de um amigo ator, que interpretava uma cenoura nas Escolas Municipais. Nenhum ator deve se orgulhar de ser cenoura, e ele também não o fazia, naturalmente. Mas quando estava lá, interpretando, não era ele: era a cenoura. E a cenoura estava lá, de corpo (?), alma e betacaroteno para ensinar às crianças sobre alimentação. Naquele momento, o que de mais importante existia era dar alma ao papel, seja qual fosse. Esse é o papel do ator - com o perdão do trocadilho.

Sou grata à vida por poder ir ao teatro muitas vezes - duas só esse mês, que orgulho! E poder acompanhar toda essa dinâmica. Emociono-me à toa, eu sei, mas marejar os olhos de alegria nunca é demais.

Emociona-me deixar o ator me enganar. Emociona-me o ator. O amor, sim, o amor do ator. Emociona-me.

Parabéns a todos os atores, os que atuam e os que estão por aí, pelo seu dia.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Do que sou - ou Uma Carta para Minha Avó

Ah, vó. Há quanto tempo eu não lhe escrevia! Já faz mais de dois anos que você foi embora... e muitos desde a última carta que lhe mandei.

Mentira. Você não foi embora. Está aqui. Bem pertinho.

Fui arrumar suas coisas esse fim de semana. Estamos tirando tudo dos armários - nossa, quantos armários -, para a mudança do meu avô pra Terê. Sim, do jeito que você dizia que ele devia fazer quando você fosse embora. Demorou um pouco, sabe como são essas coisas de dia a dia. Mas depois daquele susto, bem no segundo aniversário da sua partida, quando você me sussurrou que meu avô ia precisar de ajuda naquela noite - ah, que noite longa -, estamos recuperando o tempo perdido.

Fiquei encarregada de arrumar o quarto do Julio. Ou o meu quarto. Ou o quarto do computador. Ou o quarto da mesa do meu avô. Ou o quarto do som. Ou o quarto do bar. Ou o quarto do Luiz Carlos. Ah, quantos quartos dentro de um só cômodo, cheio de família nesses trinta e tantos anos de Praia da Bica! Apesar de não abrir nenhum armário por lá há mais de dois anos, vó, tudo o que tinha lá ainda era seu. Duas ou três pastas de documentos do meu avô, nada mais. Todo o resto era você, em muitos pedacinhos.

Encontrei um caderno de contos sobre o que seria o amor. Escrito por você e por suas amigas de escola, em 1949. Acho que foi você quem teve a ideia de escrever, porque é sua a primeira crônica sobre o amor. Talvez ainda não conhecesse meu avô, e a ideia de amor ainda fosse mais romântica e delicada do que a vivida em 57 anos de casamento. Mas não menos dedicada e completa. Sabe vó, um naco grande do meu avô não vivia dentro dele, e foi embora junto com você. Nem o coração de não demonstrar sentimento dele resistiu, quando três meses depois da sua despedida, o infarto quase o levou junto. Mas sabe como é meu avô: o seu inventário ainda não estava pronto, então ele tratou de se recuperar logo pra resolver esse problema.

Peguei uns CDs seus para mim, tá? As pessoas quase nem dão mais valor, mas eu gosto. Peguei os do Chico, e Canção do Amor Demais também. Não tenho vitrola, mas também guardei o LP do "Prá Gente Miúda", que dançamos tantos sábados! "Lá vem o pato, pato aqui, pato acolá, quá quá...". Eu não tinha ideia de que tantos nomes importantes do cancioneiro popular faziam parte daquelas nossas tardes de sábado, enquanto a gente contava o passo com a bailarina, ou desenhava numa folha qualquer com a Aquarela. O LP foi comprado em 29/09/1988, você anotou na capa. Eu tinha pouco mais de dois anos, quando você começou a me mostrar que Chico Buarque seria meu compositor favorito.

Falando em folha qualquer, vó, eu tive que me desfazer dos seus blocos de desenho, e dei para a doação as nossas réguas com formatos geométricos. Eu sei que você nunca chorava, mas eu chorei por nós duas, quando tirei da gaveta as minhas cartas de Teresópolis para você, e a impressão do Power Point do "Notícias da Serra". Estava junto com o "Aviso de aniversariante" que eu colei no seu andador, e que você exibiu orgulhosa o dia todo, em um dos últimos aniversários em que passamos juntas. Chorei e choro de novo agora, porque essa mania de chorar eu herdei da outra vó.

Aquela porta do armário que tinha centenas de livros, revistas e cadernos empilhados era a que mais me preocupava, e foi a que me deu mais trabalho. Porque você estava distribuída em todas as páginas. Em todas as pastas de letras de música do Coral (com o codinome Elza II, porque tinha uma outra Elza no coral do Iate); nas suas anotações do curso de japonês (o Aquino, que você não chegou a conhecer mas teria se dado muito bem, trouxe o livro e o dicionário pra ele); nos mais de 20 anos de Almanaque do Pensamento; nas revistinhas mil de horóscopo; no seu mapa astral; nos livros de primeiros socorros; nos livros de psicologia, biologia, ortografia, gramática, tarô, do-in, terapia, autoajuda, filosofia, Jorge Amado, Vinicius de Moraes... Nas anotações e nos marcadores de livro, nas flores secas entre as páginas, lá estava sua busca louca pelo conhecimento de qualquer coisa que despertasse o interesse. Separei a maior parte para o sebo, mas trouxe algumas bolsas para casa.

Desculpe o mau jeito ao desconstruir seus maiores tesouros. Doeu aqui, porque eu sei que lhe doeu também.

Não se preocupe. Está guardada aqui entre as minhas veias essa vontade de me interessar por qualquer coisa que desperte interesse, de escrever, atuar e ser programadora ao mesmo tempo, de não ter medo de estudar matemática e gostar de samba. Pode deixar. A sua biblioteca audiovisual será mantida e ampliada. E os livros que estavam tanto tempo sem ser lidos vão para novas mãos, para nova gente interessada. Lugar de livro é na cabeceira de leitor, não trancafiado em um armário de memórias.

Deu trabalho, o seu tesouro. Cansa revistar tudo aquilo, viu. Mas valeu a pena, fazia tempo que não ficávamos juntas assim. Como nas tardes de sábado.

Peguei o LP do "Prá Gente Miúda" e ouvi as músicas, no computador, como se fosse a vitrola. Chorei de novo. Essa coisa de chorar é da minha outra avó, você sabe. Entre muitas outras coisas, como o gosto por Agatha Christie, mas isso não vem ao caso agora, depois eu escrevo para ela também. Essa coisa de saudade machuca, dói mesmo, por isso a gente chora. Mas a vida é assim, e como você escreveu em várias agendas e cadernos no fim da sua passagem pela Terra, "O importante não é o que fizeram de nós, mas o que faremos com o que fizeram de nós".

Pois é, vó. Chorei de novo.

E mais ainda, quando Chico Buarque cantou os últimos versos do nosso LP na vitrola:

"Só peço a você, um favor, se puder... Não me esqueça num canto qualquer..."

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Prótese do antigo milênio

Antigo, porque de novo ele não tem nada, ao completar seus avançados quinze anos (ou quatorze, se alguém ainda se lembrar da polêmica do terceiro milênio, que não começava em 2000, mas em 2001).

Em quinze anos de ex-novo milênio, passamos do discado (wóooow tshhhhhh, péin péin péin) ao wifi-4g-móvel-como-assim-você-só-tem-cinco-mega. Estamos conectados em (quase) todos os cantos, e quando não estamos, dá urticária, palpitação e aquela sensação de "mas e se acontecer alguma coisa, como é que eu vou saber?". A essa pergunta, só o que sei dizer é que, até o milênio passado, as pessoas ficavam sabendo. Deixavam recado, ligavam pro trabalho, mandavam pombos, sei lá, mas o recado era dado e, de uma forma ou de outra, todos ficavam sabendo do que lhes era devido.

O milênio, novinho, começou a engatinhar e em suas primeiras palavras estava a segunda leva da internet, a participativa. Antes, existia o jornalista, o colunista, o provedor de conteúdo e o leitor. E o milênio experimentou ainda em sua infância uma mistura assanhada de todos esses papéis, em que todos falam e ninguém escuta, todos escutam o que ninguém fala, ninguém fala o que se escuta, entre muitas outras combinações curiosas e perversas do mundo digital. De toda essa promiscuidade participativa, veio o termo "rede social", e com ele a mais nova prótese da sociedade.

O carro grande, a roupa de marca, a mulher mais nova, "próteses" utilizadas há muito pela sociedade moderna para esconder ou substituir membros defeituosos - incluindo o cérebro, a dignidade e a honra. Ontem, porém, verificando a timeline do Facebook pela enésima vez ao dia, me dei conta de que as tais "redes sociais" estão servindo como próteses. Próteses de vida.

Acontece que ontem foi um dia em que nada aconteceu. Dormi muito, vivi pouco. E depois de muitas semanas sem necessidade de ler a vida alheia no Facebook, no Instagram, no Twitter, ontem o fiz várias vezes. Acessei incessantemente, até descobrir que estava tentando sugar um pouco de convivência falsa, de conversa, de vida, de cumplicidade.

Que bosta, pensei.

E vi como isso vicia. Como é bom viver a vida alheia, acreditando que estamos convivendo com aquela pessoa que nem lembra seu nome. Como é bom desenhar a vida que gostaríamos de ter em algumas frases, memes e fotos pseudo-espontâneas. Como é bom saber de tudo sem se expor, sem sair de casa, sem abrir a boca, sem abrir o guarda-chuva para chegar na casa do vizinho. Sem nem discar o telefone, porque o primeiro alô já é uma iniciativa direta demais.

Que prótese maravilhosa essa, a que substitui uma vida vazia, inerte e inócua, por outra cheia de amigos, de atividades, de opiniões, de eventos, de issos e aquilos!

Mas... a que custo? De mentira também vale? Se fôssemos nós no lugar do personagem de Keanu Reeves, tomaríamos mesmo a pílula vermelha? Quereríamos sair do mundo das opiniões intermináveis sobre qualquer coisa, das frases de autoajuda emolduradas por famílias felizes, dos bom dia e boa noite encaminhados ao vento, das fotos muito felizes de momentos nem tão felizes, das notícias ruins do vizinho que ainda não são minhas, dos destinatários sem remetente, dos remetentes de qualquer destinatário, da fila de pessoas desconhecidas que concordam comigo, da chance de bloquear quem eu não quero ouvir, de..., de...?

Talvez haja um equilíbrio. Uma terceira pílula, de repente. Que permita ao caboclo utilizar o meio de comunicação, sem entregar a ele um naco de vida. Talvez seja aplicável apenas a outras espécies mais evoluídas. Ou aos moradores do próximo milênio. Não sei. Ando pessimista.

Vou tomar minha pílula azul, postar essa crônica e aguardar. Quem sabe me alimento com alguns likes, nessa noite solitária.


quinta-feira, 30 de abril de 2015

Um presente para meu finlandês moreninho

Madrugada fria
                       (cheiro de chuva)
Manhã cinzenta nublada
                       (silêncio no horizonte)
Café da manhã na bandeja
                       (sanduíche, café, suquinho)
Pré corrida no note
                       (streaming ok)
Tudo pronto para a largada
                       (go Kimi, go!)
Pódio finlandês
                       (musiquinha de exaltação inventada na hora)
Pós corrida sem pressa
                       (streaming ainda ok)
Galetinho perto de casa
                       (filhotes pelo caminho)
Aquela mesa longe de barulho
                       (e de crianças, essencialmente)
Volta pelo Aterro
                       (óculos escuros, checked)
Perambular por aí
                       (mais filhotes pelo caminho)
Experimentar um caminho novo
                       (eu já citei filhotes?)
Aconchegar, papear, abraçar, distrair
                       (e a hora a passar, passar)
Rotina sem sobressaltos
                       (arroz, feijão, cenourinha e frango)
Jboss funcionando de primeira
                       (porque sonhar é de graça)
Um bom custo benefício
                       (pão duro não, controlado)
Metrô vazio em hora de pico
                       (sem colombianos tocando)
Vitória no kart
                       (tan tan taaaan, tan tan taaan)
Moças anasaladas cantando
                       (elas são, que posso fazer)
Amigos num happy hour
                       (gurjão de frango, pizza de calabresa)
Viagem depois do pouso
                       (café da manhã de hotel)
Extinção total dos insetos voadores
                       (ou uma casa bem dedetizada)
Cabeça leve
                       (preocupações lá longe, torsilax também)
Backlog de roupas sujas finalizado
                       (e quem sabe as sem passar)
Desenho japonês novo
                       (com áudio original)
Desenho japonês velho
                       (recordar é viver)
Evento da Apple
                       (palmas!)
Novo device no evento da Apple
                       (palmas! palmas!)
Ideia inovadora no novo device no evento da Apple
                       (palmas! palmas! palmas!)
Encomenda na portaria
                       (seu Luiz, é pro senhor!)
Duas camadas de roupa
                       (cachecol é sempre bom)
Joguinho novo no iPad
                       (quanto mais engenhoso, melhor)
Travesseiro conhecido, cama conhecida
                       (não há lugar melhor do que o lar)
Soninho chegando
                       (nham nham)
Mimicama
                       (na certeza de que)
no dia seguinte
                       (e no seguinte)
todos os seus presentes estarão lá
                       (sempre lá)
esperando por você
                       (só por você)
porque você merece
                       (cada dia mais)
e mais, e mais, e mais...
                                                                                                                                (te amo)

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Sou Grata

Na confusão dos pensamentos de dias que não param de se atropelar, muitas vezes é difícil deixar de lado a catarse, nas expressões ditas e escritas. Dramatizar é preciso, pensam os pessimistas, agem os midiáticos, profetizam os sofredores. Se eu sofro, se você sofre, se o sofrimento é o mote, deixa de ser tão dolorido e vira parte da rotina.

Mas, dizem os entendidos, é sempre bom sair da zona de conforto. Mesmo que seja a zona do conforto do sofrimento. Uma experiência analítica seria colocar numa planilha tudo o que aflige, e tudo o que consola. E ser grato pelo que está na segunda coluna. Cuidar dessa metade, cultivá-la, mesmo quando a outra estiver em destaque, sambando no noticiário.

Sou grata pelos fins de semana de preguiça. Pelas idas ao teatro. Pelas compras da Feira do Lavradio. Pelas pequenas conquistas. Aprendi a andar de bicicleta no ano passado, com (quase) 30 na cara. Na cara, nos braços e nas canelas, que ficaram meio roxas no aprendizado. Mas aprendi, e semana passada fui até a cabeceira do aeroporto de bicicleta, toda prosa, para ver os aviões decolando e pousando. Sou grata por poder aprender coisas de criança.

Sou grata pelos que estão sempre aqui do lado. Se eu aprendi a andar de bicicleta, foi porque alguém muito especial estava ao meu lado, me ensinando mesmo sem saber ensinar. "Leveza no corpo, leveza no corpo!!", haha, me emociono ao escrever a frase que me fez pedalar.

Sou grata pelos que se importam. Semana passada, quando forcei meu olho direito a uma carga horária maior do que ele gostaria, mesmo assim eu me senti bem. Porque um me alertou, o outro chamou táxi, outros me distraíram, me fizeram rir, me deram bronca, me acompanharam no exame. Obrigada, obrigada, obrigada.

Sou grata pela minha casinha, pelas minhas coisas, pelo silêncio que me abraça quando estou só, e pelo barulho das companhias sempre bem vindas. Cada canto dos meus trinta metros quadrados tem um pouco do carinho de quem se importou, se lembrou, ou está na foto de tantos instantes infinitos.

Sou grata pelo que aprendi ao longo dos meus (ainda) vinte e tantos anos, nas formas ortodoxas do professor-papel-caneta, ou na marra, ou por aí. Fazer quentinhas pode ensinar a gerenciar projetos de forma mais eficaz do que muito curso de especialização. Tudo depende da forma como se olha. Sou grata por enxergar, mesmo míope, através de algumas facetas pouco comuns, e aplicá-las ao novo.

Sou grata por sair da zona de conforto toda vez que o sarrafo levanta mais um pouco, e me desafiam a pular por cima. Cansa, desanima. O dia a dia de fazer pela primeira vez nunca é tão emocionante quanto nos filmes - nem dá pra resolver tudo dentro das duas horas entre os trailers e os créditos. Mas quando o resultado aparece, quando você tem o orgulho de dizer "fui eu que fiz", mesmo que só para você mesmo.

Sou grata por mudar de ideia, e poder mudar junto com a ideia. Se há uns anos atrás eu acreditava que a única saída era não se apegar a um alguém, vi em bons exemplos que nem sempre esse apego dá errado. Meu espaço amostral estava viciado, e ampliando-o achei casos de sucesso. Tanto, a ponto de achar que, de repente, também é possível criar o meu. Quem sabe. Viva essa metamorfose, cantada há tantas décadas.

Sou grata porque posso enumerar minhas gratidões e publicá-la para de repente ninguém ler, ou para talvez só um você ler, ou quem sabe alguns de vocês lerem. Ordenar as letras em palavras e ideias sempre acalma, e pela calmaria também sou grata. Sou grata por quando a tecnologia agrega, ao invés de dividir. Sou grata pelos raros momentos em que as pessoas expõem o que sentem, e não o que mandaram sentir. Quando a opinião surge da observação das coisas, e não da observação das observações, que vieram da observação de quem observa por profissão, e não por gosto.

Sou grata porque, mesmo que ninguém chegue ao último parágrafo, eu o escrevi. E agradeço por ter tanto a agradecer, o que talvez tenha tirado o pouco interesse de um ou outro que começou a leitura, pelo excesso de palavras. Não importa, também sou grata pelas semi-leituras e pelas quase-leituras.

Obrigada.