quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

E Luiza Casou

Um viva aos neurônios subversivos e teimosos, que prendem em suas memórias o que lhes dá na telha, porque no fim das contas a telha é deles, e não nossa.

Fosse nosso o controle do que guardar ou não nas lembranças, certamente estariam cheias de MBAs, teorias, processos e toda a sorte de itens curriculáveis, além de selfies em locais exóticos e culturas inúteis de toda espécie. Efêmeros que somos, eliminaríamos no segundo período de faculdade todos os amigos da primeira infância, para colocar o conteúdo daquela matéria impossível. Por sorte ou sabedoria Divina, quem sabe, somos donos dos nossos narizes, não dos nossos cérebros.

E eles estão todos lá. Desde o primeiro colega da pracinha até os do segundo grau (perdoem-me os novatos do "Ensino Médio", ou coisa que o valha, mas o público alvo aqui é formado pelas minhas lembranças, e elas fizeram segundo grau). Não sabemos se estão vivos, bem, alegres, mas vez ou outra pulam em nossas memórias, porque tinham aquele brinquedo, porque gostavam daquela música, porque foram com a gente naquela excursão, porque dividiram o castigo, o biscoito, as confidências.

São memórias que se mexem, que aquecem o coração quando menos se espera. Memórias de pessoas que não existem mais, porque cresceram, hoje são outras pessoas - admiráveis ou não - das quais perdemos contato, na maioria. Ou acompanhamos de longe, quase observadores inofensivos nesse mundo curioso da Rede Social - desculpe novamente algum jovem anos 2000 que leu até aqui, mas não somos nativos desse mundo. Nós o adotamos com o gosto e a responsabilidade de ser a primeira geração a trocar a máquina de escrever pela impressora nos trabalhos de escola - feitos na casa do amigo que tinha computador, claro.

No meio dessa confusa forma de acompanhar de perto-longe quem teria virado foto, lembrança aleatória em domingos de chuva, a Luiza Coelho casou.

Luiza foi amiga de infância, depois melhor amiga de pré-adolescência, depois destinatária preferida, depois amiga da outra turma, depois "vamos marcar alguma coisa", depois "Feliz aniversário"... e só. Idas e vindas de vidas que se cruzam e descruzam por aí. Várias cartas, vários parênteses, várias piadas internas envolvendo Arquivo X, naquela fotografia amarelada que se move dentre dendritos e axônios.

Aí outro dia ela casou. Vi na timeline, várias fotos, uma felicidade só, festa linda, cortejo com cara de Carnaval, sensacional. Cara de Luiza. Sei que é. Porque tempo e distância podem tirar do dia a dia a convivência, mas não há como remover da memória o tanto de emoções compartilhadas com amigos de longa data. Não fazem parte apenas das lembranças - são parte do que nos tornamos, de quando aprendemos a pensar e a agir - amigos de infância, ou da quase infância, são parte de nós. Eternamente.

Quem casou foi a Luiza, mas vieram na memória tantos outros instantes, tantos outros rostos, que virei noite vendo foto de gente alheia no Facebook. Uns vi tem menos tempo, outros muitos anos. Gente que engordou, que emagreceu, que casou, que saiu do país, que teve filho, que não fez nada disso. Gente que seguiu a carreira que lia com afinco no Guia do Estudante (será que isso ainda existe, na edição impressa?), gente que descobriu que não era nada daquilo. Facebook é uma bosta. A gente sabe da vida dos outros sem fazer parte, conhece a superfície mas não faz ideia do conteúdo. Como um tabloide, site de fofoca, em que tudo é maravilhoso ou desastroso. Meio termo não gera like.

Já esbarrei duas vezes com Conrado na entrada do metrô. Sempre só de passagem, só um oi assustado de quem vê um rosto conhecido mas não lembra imediatamente de onde. E quando lembra, é como ver fantasma - o mundo não deveria ser suficientemente pequeno para encontrar um colega de turma de outra cidade, na saída B do Catete. Os dois instantes também fizeram brotar lotes de memórias, o nosso esquema enfileirado de cola, a época da temida "habilidade específica", o sempre violão na aula vaga.

Luiza lembra Manoela, que lembra Gisele, que lembra Letícia, que lembra Vanessa Vilela, que lembra Renata, que lembra Paula de Castro, Nora, Léo, Anna Mei, Flávia, Fernanda, Karen. Conrado lembra Caio, que lembra Elisa, que lembra Ana Lu (que dessas eu não perdi contato, graças aos Céus!), que lembra Thiago, que lembra Phelipe, que lembra Natasha, que lembra, que lembra, que lembra...

Lembre aí.

As lembranças fazem com que saibamos sempre de onde viemos, do que somos feitos, de quem nos moldou e direcionou nossos pensamentos e ações. Nossos amigos. Nossos colegas. Os amigos e os nem tanto.

Luiza me fez divagar e escrever um monte. Como nos velhos tempos. Faltou um pouco de parênteses (estou destreinada (não conseguiria abrir e fechar tantos mantendo a linha de raciocínio (mas sou programadora (ou analista de sistemas, que é mais bonito) e deveria saber fazer isso, caso contrário nada funcionaria), como fazia antigamente), mas posso tentar um pouco (rá!)). Arquivo X está de volta, depois de 13 anos (TREZE anos... nasceram 13 cabelos brancos quando realizei isso). A verdade ainda está lá fora, ao que parece. E Luiza estava uma noiva linda. E tirou fotos lindas na Lua de Mel, e tem cara de felicidade de verdade, ao lado do marido (porque uma coisa que a gente aprendeu na era do selfie, foi a separar felicidade de tenho-que-parecer-feliz).

Viva os noivos! Viva os amigos de infância! Viva...!